UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina
Pós-Graduação em Ciência da Computação
Disciplina de Informática Aplicada à Educação - 99/3
Sandro da Silva dos Santos



Síntese da Leitura de Paulo Freire

Na realidade, não se pode falar em "Método Paulo Freire", pois se trata mais de uma teoria do conhecimento, de uma filosofia da educação do que de um método de ensino. Mas, acredito que o melhor seria, chamar a esse "método" de "sistema", "filosofia" ou "teoria do conhecimento".

Linda Bimbi no prefácio à edição da Pedagogia do Oprimido (1980) diz:

"a originalidade do método Paulo Freire não reside apenas na eficácia dos métodos de alfabetização mas, sobretudo, na novidade de seus conteúdos para conscientizar. A conscientização nasce em um determinado contexto pedagógico e apresenta características originais:
a) com as novas técnicas, aprende-se uma nova visão do mundo, a qual comporta uma crítica da situação presente e a relativa busca de superação, cujos caminhos não são impostos, são deixados à capacidade criadora da consciência livre;
b) não se conscientiza um indivíduo isolado, mas sim, uma comunidade, quando ela é totalmente solidária a respeito de uma situação-limite comum.
Portanto, a matriz do método, que é a educação concebida como um momento do processo global de transformação revolucionária da sociedade, é um desafio a toda situação pré-revolucionária, e sugere a criação de atos pedagógicos humanizantes (e não humanísticos), que se incorporam numa pedagogia da revolução".

Com isso, Linda Bimbi tenta mostrar a estreita ligação entre o método Paulo Freire e o momento da transformação social e politica, ou seja, que o método Paulo Freire esta comprometido com uma mudança total da sociedade.Para ele, a sociedade não pode ser construída pelas elites porque elas são incapazes de oferecer as bases de uma política de reformas. A nova sociedade só poderá se constituir como resultado da luta das massas populares, as únicas capazes de operar mudanças.

Paulo Freire entende que é possível engajar a educação no processo de conscientização e de movimento de massas. Ele desenvolve o conceito de "consciência transitiva crítica", entendendo-a como a consciência articulada com a práxis. Segundo ele, para se chegar a essa consciência, que é ao mesmo tempo desafiadora e transformadora, são imprescindíveis o diálogo crítico, a fala e a convivência.

Dois elementos fundamentais da filosofia educacional de Paulo Freire são: a conscientização e o diálogo.

A conscientização não é apenas tomar conhecimento da realidade. A tomada de consciência significa a passagem da aderência à realidade para um distanciamento desta. A conscientização é mais que o nível de tomada de consciência através de uma análise crítica, isto é, da descoberta das razões da situação em que se encontra, para em ação transformar esta realidade.

O diálogo consiste em uma relação horizontal e não vertical entre as pessoas em suas relações. Na concepção de Paulo Freire o dialogo é uma relação centrada pelo respeito entre os sujeito que participam dele tanto como individuos, como enquanto expressão de uma prática social. No pensamento de Paulo Freire, ele afirma: "ninguém educa ninguém. Ninguém se educa sozinho. Os homens se educam juntos, na transformação do mundo". Sendo assim, valoriza-se o saber de todos. O saber dos alunos não é negado.O educador também não fica limitado ao saber do aluno e  tem o dever de ultrapassá-lo. É esta a diferença entre o professor e aluno e faz com que a função do educador não se confunda com a do aluno. Porém não se trata de espontaneismo que deixa os estudantes entregues a si próprios, pois como ele mesmo diz "O espontaneísmo só ajudou  até hoje a direita".

O dialogo proposto pelas elites, é verticalizado, forma o educando-massa, impossibilitado-o de se manifestar. Para que o educando passe  da consciência ingênua para a consciência critica ele  tem que se tornar sujeito, libertando-se da hospedagem do opressor dentro de si que o faz se sentir ignorante e incapaz.

Na concepção bancária, o educador é o que sabe e os educandos, os que não sabem; o educador é o que pensa e os educandos, os pensados; o educador é o que diz a palavra e os educandos, os que escutam docilmente,....Esta forma de relação hierarquizada impede o pensamento critico e o questionamento de sua situaçao no mundo, impossibilita a libertação das amarras do autoritarismo,e, finalmente, o educador é o sujeito do processo, enquanto os educandos são meros objetos.

Ela nega a dialogicidade, ao passo que a educação problematizadora funda-se justamente na relação dialógico-dialética entre educador e educandos; ambos aprendem juntos.

O diálogo é, portanto, uma exigência existencial, que possibilita a comunicação e permite ultrapassar o imediatamente vivido. Ultrapassando suas "situações-limites", o educador-educando chega a uma visão totalizante do programa, dos temas geradores, da apreensão das contradições até a última etapa do desenvolvimento de cada estudo.

Segundo Paulo Freire os círculos de cultura não tinham uma programação pré-definida. A programação era feita pelos participantes dos grupos que definiam as questões a serem debatidas. Porém era permitido acrescentar outros temas que, na Pedagogia do Oprimido, ele chamava "temas de dobradiça", isto é, temas que serviam para melhor esclarecer a temática sugerida pelo grupo. Como insistia ele,existe uma sabedoria popular, ou seja um saber que é gerado na prática social do povo, mas que às vezes o que falta é uma compreensão mais solidária dos temas que compõem o conjunto desse saber. Paulo Freire não separa teoria e prática.

Paulo Freire descobriu que a forma de trabalhar o processo do ato de aprender era determinante em relação ao conteúdo da aprendizagem, não sendo assim possível aprender a ser democrático através de métodos autoritários. A participação do sujeito da aprendizagem no processo de construção do conhecimento não é apenas algo mais democrático, mas demonstrou ser também mais eficaz. Ao contrário da concepção tradicional da escola, que se apoiava em métodos centrados na autoridade do professor, Paulo Freire comprovou que os métodos novos, em que alunos e professores aprendem juntos, são mais eficientes.

Bibliografia:

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 5º Edição,  Editora Paz e Terra. Rio de Janeiro, 1978.

FREIRE, Paulo. Comunicação ou Extensão. 7º Edição,  Editora Paz e Terra. Rio de Janeiro, 1983.

GADOTTI, Moacir. A voz do Biógrafo Basileiro: A prática `a altura do sonho. URL: http://www.ppbr.com/ipf/bio/brasileiro.html

RAMOS, Edla Análise ergonômica do sistema hiperNet buscando o aprendizado da cooperação e da autonomia. Tese de doutorado defendida junto ao programa de Pós Graduação m Engenharia Produção e Sistemas da UFSC. Novembro de 1996. Capítulo 4 - itens 4.4 e 4.5.