UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina
Informática na Educação
Prof. Edla
Harley Wagner
Sintese:
A inteligência Coletiva - Pierre Lévy
O livro é dividido em duas partes: a engenharia do laço social e o espaço do saber. Na primeira parte, o autor começa relacionando as diversas formas tecnológicas que surgiram nestes últimos tempos. Cita que seguindo o curso dos acontecimentos, irá se convergir para um novo meio de comunicação, de pensamento e de trabalho para a sociedade.
Em uma busca pela história, correlaciona os fatos que marcaram o desenvolvimento do ser humano, como por exemplo antes do desenvolvimento da linguagem, onde cada elemento teria boa memória, seria observador e astucioso, mas ainda não teria atingido a inteligência coletiva da cultura por falta de linguagem.
Faz referência também a questão chamada de "nomadismo", onde comenta que novamente o homem se tornou nômade, desta vez de uma forma diferente, pois vivemos em mudança num mundo onde o espaço físico não faz mas parte "O espaço do novo nomadismo não é território geográfico, nem o das instituições ou dos estados, mas um espaço invisível de conhecimentos, saberes, potências de pensamento em que brotam e se transformam qualidades do ser, maneiras de constituir sociedade"(Lévy, 1998, p. 15). Desta forma, mexer-se não significa se deslocar-se de um lado para outro, mas atravessar universos de problemas, de mundos e paisagens. Com essa nova dimensão da comunicação, deveria ser permitido compartilhar os conhecimentos e apontá-los uns para os outros, sendo essa uma das condições elementárias da inteligência coletiva.
Inteligência coletiva, "é uma inteligência distribuída por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva das competências"(Lévy, 1998, p. 28), ele acrescenta a base e o objetivo da inteligência coletiva como o reconhecimento e o enriquecimento mútuo das pessoas. Neste pensamento, a idéia da inteligência estar distribuída por todas as partes é a parte inicial, pois, ninguém é sabedor de tudo e de todos, as pessoas sempre sabem algo, e isto pode ser juntado de forma a fazer uma inteligência coletiva.
Com relação a ética da inteligência coletiva, o autor faz uma referência a história de Sodoma e Gomorra, comparando com a história a necessidade da junção das pessoas em torno de um mesmo ideal, a necessidade dos laços sociais pode ser uma das pedras fundamentais para o desenvolvimento da inteligência coletiva. Neste contexto é abordado as qualidades humanas, todas as atividades sociais que produzem e sustentam essas qualidades, mesmo as que não fazem parte diretamente. É destacado a escassez dos que fabricam coisas, é descoberto o humano como seres não automatizáveis, a abertura de mundos sensíveis, a relação, a recriação continuam sendo coletivas. Nada segundo o autor, é mais precioso que o humano, ele é a fonte das outras riquezas, critério e portador vivo de tantos valores. São a condição necessária do universo e o supérfluo que lhe confere, compõe o solo da existência e o extremo de seu luxo, inteligências e emoções, fazem parte dele.
Com relação a informação, divide-se em três grupos: somáticas, midiáticas e digitais. As somáticas implicam a presença efetiva, o engajamento, a energia e a sensibilidade do corpo para a produção de signos. As midiáticas, fixam e reproduzem as mensagens a fim de assegurar-lhes maior alcance, melhor difusão no tempo e no espaço. As mensagens continuam a ser emitidas na ausência do corpo vivo dos destinatários. As digitais é o absoluto da montagem, incidindo esta sobre os mais ínfimos fragmentos da mensagem, uma disponibilidade indefinida e incessantemente reaberta à combinação, à mixagem, ao reordenamento dos signos. Cada uma das técnicas moleculares condiciona as outras. Sem os avanços da informática, o gênio genético não seria tão eficaz e as nanotecnologias não teriam sido sequer concebidas. Inversamente, as nanotecnologias dos materiais comandam em grande parte o progresso do digital.
As cidades inteligentes, onde se desenvolve uma hipótese com relação a uma democracia direta acompanhada pelo computador. Novamente o autor faz uma referência histórica, desde o surgimento da escrita, comparando as novas cidades inteligentes a "ágora virtual". É discutido a possibilidade do uso entre todos os elementos da sociedade, evitando que isso se torne estritamente para algumas pessoas definidas como privilegiada. O próprio autor aponta soluções como a utilização das infra-estruturas materiais existentes, e a capacidade de navegação se adquirirá com maior facilidade que o aprendizado da leitura e alfabetização, provendo muitos benefícios sociais, econômicos e culturais além, é claro, do acesso a cidadania.
Na segunda parte, o autor trata do espaço do saber. É definido os quatros espaços, a terra, "A terra não é o solo originário, nem o tempo das origens, mas o espaço-tempo imemorial ao qual não se pode atribuir origens, o espaço, o desdobramento e o futuro do mundo humano" "(Lévy, 1998, p. 115). O território trabalha para recobrir a grande Terra nomade, diminuir as margens. O território instaura com a Terra uma relação de depredação e destruição, ele a domina, fixa, encerra, inscreve e mede. As mercadorias, o espaço das mercadorias é aplainado, mantido, aumentado por uma máquina desterritorializante, que se auto-organizou de uma só vez e a partir daí se alimentava de tudo o que se encontra pela frente. O saber, o espaço do saber, "Sejamos francos: o Espaço do saber não existe. É, no sentido etimológico, uma utopia, um não-lugar" (Lévy, 1998, p. 120).
Nestes quatros espaços, é relacionado diretamente com as épocas do homem, o espaço Terra, está ligado ao Paleolítico, o espaço do território é ligado ao Neolítico, o espaço das mercadorias está ligado a revolução industrial, o espaço do saber está ligado ao Noolítico, o qual é definido como a idade da pedra do espírito, "A pedra não é mais aqui o sílex, mas o silício dos microprocessadores e da fibra óptica"(Lévy, 1998, p. 122). Define a relação entre seres humanos como produtores, transformadores e administradores dos espaços heterogêneos e entrelaçados, "Uma mera conversa pode ser considerada em construção em comum de um espaço virtual de significações que cada interlocutor tenta alterar segundo seu humor, seus projetos"(Lévy, 1998, p. 125).
Cada espaço antropológico desenvolve um regime de signos, uma semiótica específica. Na Terra, o signo participa do ser, e o ser do signo. Cada acontecimento se constitui mensagem, e toda pessoa, mensageira. O signo é um atributo, uma parte ativa das coisas, do ser ou da situação que ele qualifica. O signo não se separa jamais de uma presença.
As definições dos objetos de conhecimento, também fazem parte da segunda parte do livro. Os objetos de conhecimento privilegiados são as figuras próprias a esse espaço. Os objetos são constituídos pelos instrumentos de navegação específicos ao espaço em questão. Os espaços antropológicos pensam a si mesmos com suas próprias ferramentas. O objeto da Terra, o autor define como o objeto do relato que não constitui a origem. O relato transmite-se, perpetuando-se, iniciando um ciclo, a idéia do relato já resulta de uma fixação pela escrita. Na terra é possível que não haja relatos, somente uma cadeia indefinida de narrativas se retornando, derivando indefinidamente. O verdadeiro objeto das narrativas não é a origem, o ponto fixo de partida, como nas histórias lineares do território, mas um imemorial. O objeto do saber terrestre é um começo eterno. É apresentado uma tabela que representa o quadro geral dos quatro espaços, a relação com o conhecimento.
Terra | Território | Espaço das Mercadorias | Espaço do Saber | |
Instrumentos de navegação | Relatos algoritmos portulanos | Projeção de um céu sobre uma Terra sistemas, mapas | Estatísticas probabilidades | Mundos virtuais Cinemapas |
Objetivos | Devires começos Rituais | Geometria "Leis" da natureza estabilidades | Fluxos, Fogos,Massas, Objetos das "ciências humanas" | Significação, Liberdade, Configurações dinâmicas de coletivos sujeitos objetos linguagens, Recomeço do devir do intelectual coletivo |
Sujeitos | Os anciãos | Os comentadores | Os eruditos | Os coletivos inteligentes,A humanidade |
Suportes | A comunidade tomada como um só corpo | O livro | Da biblioteca ao hipertexto | A cosmopédia |
Epistemologias | Empirismo Fenomenologia | Racionalismo Idealismo transcendental
"Método científico" "Paradigmas" |
Teoria da ação e das redes (operatividade, tecnociência)
Teoria do relato (modelizações, simulações, cenários) Teoria da arte (inteligências artificiais, vidas artificiais) |
Prática social do saber como continnum vivo em constante metamorfose
Construção do ser pelo conhecer Filosofia da implicação |
É feito ainda uma relação entre espaços para uma filosofia política. O símbolo da terra poderia ser a esfera, a esfera fechada, única e plena. Seu princípio é construir mundo, um mundo pode ser o cosmo. A insígnia do Território seria pirâmide, e seu princípio organizador a transcendência. A rede, ou o circuito, poderia se o ícone do espaço e das mercadorias, e a desterritorialização, seu princípio. Quanto ao espaço do saber, seu emblema é a árvore reunificada do conhecimento e da vida, e seu princípio, a imanência radical, "Cada situação, cada dinâmica social pode ser compreendida como uma configuração de espaços, uma combinação de figuras, um agenciamento particular de princípios"(Lévy, 1998, p. 190).
Embora os espaços se sucedam, nenhum dos espaços é jamais "superado". Cada um deles está sempre presente, na expectativa de uma reativação mais intensa. Pode-se encontrar uma analogia em nossa vida subjetiva: o tempo não passa realmente, os ambientes efetivos, as configurações existenciais são pontos em reserva, em memória, não deixando jamais de agir, estão disponíveis para todos os retornos.
O autor termina o livro refletindo sobre a questão do projeto da inteligência coletiva ser ou não realista "Propor a utopia da inteligência coletiva é retornar o mito do progresso, do avanço para um futuro sempre melhor? Não, pois a idéia do progresso linear supõe um controle total de seu ambiente pelo coletivo"(Lévy, 1998, p. 190). O projeto da inteligência coletiva não adia a felicidade para mais tarde, longe de toda a idéia de sacrifício. O autor afirma que a inteligência coletiva não possui inimigo, não combate os poderes, não busca dominação alguma, mas mil germinações. Tende a dar vida a maior variedade de existentes, a expansão das potências de vida e das qualidades de ser remetem ao critério último, o mais geral. O projeto da inteligência coletiva supõe o abandono da perspectiva do poder. Ele quer abrir o vazio central, o poço de clareza que permite o jogo com a alteridade, a quimerização e a complexidade labiríntica