UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina
Pós-Graduação em Ciência da Computação
Disciplina de Informática Aplicada à Educação - 99/3
Profª. Edla Maria Faust Ramos
Aluno: Carlos Alberto Zorzo


Este trabalho apresenta uma síntese do primeiro seminário da disciplina, juntamente com algumas conclusões do aluno a cerca do tema tratado. Segue também uma pequena bibliografia na qual o aluno obteve subsídios para o desenvolvimento do mesmo.


Síntese:

Educação e Informática – Reflexões Básicas
Profª. Edla Maria Faust Ramos

O mundo atualmente está passando por uma revolução que está pregando o uso das Tecnologias de Informação no dia-a-dia das pessoas e organizações como forma das mesmas serem mais eficientes no desenvolvimento de suas especificidades. Algumas áreas da sociedade assimilaram mais facilmente o uso destas tecnologias que outras, como a Medicina, por exemplo. Cabe-nos então, fazer uma reflexão sobre o uso das Tecnologias da Informação, mais especificamente a Informática, nos ambientes educacionais.

A introdução de novas tecnologias na sociedade provoca, em sua comunidade, três posições distintas: a indiferença, o ceticismo e o otimismo. Os indiferentes geralmente aguardam a tendência que o curso de tal tecnologia pode tomar para então se decidir quanto à sua utilização ou não. Os céticos possuem diversos argumentos para serem contrários à sua utilização e, especificamente em relação à Informática na Educação, os mesmos possuem como argumentos contrários à sua introdução a pobreza do sistema educacional, a possibilidade do computador substituir a parte humana da educação e a robotização ou desumanização dos alunos, entre outros fatores. Por outro lado, os otimistas argumentam que o computador fará parte da nossa vida e será um ótimo instrumento didático-pedagógico para democratizar o ambiente de sala de aula, motivando o despertando o interesse dos alunos a medida que possibilita o desenvolvimento do raciocínio dos mesmos, facilitando situações para a resolução de problemas. Nos dias de hoje, todos os argumentos defendidos pelos céticos quanto à utilização da informática na Educação já foram largamente questionados e a debilidade dos mesmos foi demonstrada. Desta forma, deve-se questionar não mais a introdução destas tecnologias na educação mais sim porquê e como isto deve se dar.

Como citado anteriormente, a tecnologia está invadindo nossos lares, ambientes de trabalho e os setores de serviço dos quais nos utilizamos. Por trás da utilização da informática na Educação, obviamente, existem aspectos políticos, econômicos e sociais, além dos aspectos pedagógicos. A informática é um mercado altamente competitivo e a área educacional um grande nicho de mercado para os produtores e vendedores de equipamentos de hardware e software. Desta forma, é lógico esperar uma certa pressão do poder econômico em busca deste novo mercado consumidor. Também estão envolvidos aspectos políticos e sociais objetivando a manutenção do domínio de classes e o controle sobre os meios de produção. Do ponto de vista pedagógico a informática possui potencial para implementar um novo paradigma pedagógico no qual os alunos passarão a atores no seu processo de aprendizagem, sendo os professores, gerenciadores e facilitadores deste processo. Além disso, ela é uma ferramenta propícia para buscar o aprendizado da autonomia e da cooperação e provocar processos reflexivos e de inteligência, visando a formação de pessoas autônomas e críticas, aumentando a sua possibilidade de compreender o mundo e nele intervir.

A despeito de possuir potencial para enriquecer o processo de ensino-aprendizado, a introdução da informática na educação deve ser acompanhada de uma reflexão sobre a prática pedagógica dos professores. Não adianta travestir práticas pedagógicas autoritárias, proibitivas e centradas na fala do professor e na passividade dos alunos com uma nova roupagem para se consiga uma melhoria do processo de ensino-aprendizado. Tais práticas devem privilegiar mais o aprender em vez do ensinar, onde o aprender é visto não como saber a resposta, mas sim, onde achá-la e como aplicá-la através de analogias e reflexões. Para tanto, estas práticas devem vislumbrar o cérebro como uma ferramenta de raciocínio e interpretação e não como uma forma de armazenar dados, coisa que os computadores fazem muito melhor que os seres humanos. Assim sendo, a Informática tanto pode ser uma contribuição positiva quanto negativa ao processo de ensino-aprendizado, dependendo da forma como for utilizada, sendo esta, determinada diretamente pela pedagogia do professor.

Com ferramenta de enriquecimento do processo de ensino-aprendizado, a informática e mais especificamente os computadores podem ser usados basicamente dentro de um enfoque algoritmo ou heurístico. Dentro do enfoque algorítmico, o computador é visto como uma máquina de ensinar, adotando um paradigma instrucional, onde o conteúdo é dividido em pequenas doses e permeado de atividades que exijam uma resposta do aluno. Neste enfoque, os computadores são considerados como versões computadorizadas dos métodos tradicionais de ensino, utilizando Programas Tutoriais ou Instrução Assistida por Computador ( CAI ), Programas de Exercício e Prática, Jogos e Simulações. Os defensores deste tipo de enfoque para o uso do computador na educação indicam uma evolução do mesmo com a introdução de técnicas de inteligência artificial e a utilização de hipertexto e hipermídia. A utilização dos computadores no processo de ensino-aprendizado com esta modalidade se por um lado permitem a introdução do mesmo sem que haja grandes mudanças, por outro lado limitam-se por não se propor a questionar e implementar novos métodos de ensino-aprendizado. Dentro de um enfoque heurístico, o computador não é mais visto como um instrumento ou máquina que ensina, mas como um alicerce que permite ao aluno criar e desenvolver seu próprio conhecimento e habilidades. Desta forma, as possibilidades de uso do computador expandem-se significativamente, substituindo o paradigma instrucional por um aprendizado centrado na investigação e produção própria. Um exemplo de software que adota o paradigma heurístico é o LOGO, onde o usuário interage com um ambiente gráfico através do qual ele poderá construir e testar conceitos geométricos através de um processo experimental, sendo o aluno, o principal agente do seu processo de aprendizado.

A informática também permitirá a disseminação de técnicas não convencionais de educação, como a Educação a Distância que é caracterizada pela separação professor e do aluno no espaço e/ou tempo e uma aprendizagem independente e flexível através da comunicação bidirecional. Tal sistema de educação possibilitará uma democratização do acesso à Educação e servirá de incentivo e de ferramenta de suporte à educação continuada, permanente e autônoma. Da mesma forma que a simples introdução de computadores no processo de ensino-aprendizado não é garantia de melhoria do mesmo, a disseminação da Educação a Distância deverá ser acompanhada de uma mudança de postura dos professores, das práticas e políticas pedagógicas e da própria confecção de materiais de apoio para que os benefícios da mesma possam ser sentidos na sociedade.

Dentro deste novo contexto educacional, os professores deverão estar aptos a assimilar e utilizar esta tecnologia como forma de repensar e melhorar sua prática. Eles terão que passar de meros transmissores de conteúdos e conhecimentos para orientadores dos alunos na busca e análise das informações visando a construção do conhecimento dos mesmos, usando para tal, a tecnologia da informática. Deve-se salientar que o professor não perderá seu lugar para o computador, mas sim para outro professor que utilize de forma mais efetiva as tecnologias para melhorar a sua ação em sala de aula.

Finalmente, cabe-nos concluir que a sociedade atual tem passado por transformações nunca vista antes e a Escola, inserida que está neste meio, precisa também tornar-se um local mais agradável e motivador para os alunos e professores. Para tanto, a introdução das Tecnologias da Informação podem auxiliar a enriquecer o processo de ensino-aprendizado com ferramentas não convencionais de educação. Cabe ressaltar, entretanto, que a utilização de tecnlogias por si só, não será capaz de resolver os problemas educacionais encontrados atualmente. A utilização das mesmas só terá validade a medida em que cause um repensar da ação pedagógica, privilegiando ambientes educacionais menos autoritários e centrados na pesquisa e investigação, tornando os alunos atores do seu processo de ensino-aprendizado, procurando desenvolver nos mesmos habilidades para o gerenciamento e resolução de conflitos, relacionamento interpessoal, aquisição e processamento de informações, autodidatismo educacional e espírito investigativo, características estas desejadas dos cidadãos da Era do Conhecimento.

 

Bibliografia:

CHAVES, Eduardo. Tecnologia e Educação: O futuro da Escola na Sociedade da Informação. Campinas : Mindware Editora, 1998.

CYSNEIROS, Paulo Gileno. Professores e Máquinas: Uma concepção de Informática na Educação. Texto indicado pelo Prof. Eduardo Chaves na disciplina Educação, Ciência e Tecnologia no curso de Mestrado em Educação da UNICAMP/UnC.

HASSE, Simone Hedwig. A Informática na Educação: Mito ou Realidade? In Pesquisa e Educação: História, Filosofia e Temas Transversais. Campinas, SP: Editora Autores Associados, (p. 123-139), 1999.

RAMOS, Edla. Educação e informática - reflexões básicas. GRAF&TEC, (p.11-26). Florianópolis, setembro de 1996.

RODRIGUES, Elisandra. Ensino Tradicional & Ensino Informatizado. Trabalho de Conclusão de Curso defendido junto ao Curso Superior de Tecnologia em Processamento de Dados da UnC-Caçador, 1995.

RUDÁ, Ricci. O Perfil do Educador do Século XXI: de Boi de Coice à Boi de Cambão. Texto indicado pelo Prof. Eduardo Chaves na disciplina Educação, Ciência e Tecnologia no curso de Mestrado em Educação da UNICAMP/UnC.

SEABRA, Carlos. Uma Nova Educação para uma Nova Era. Texto indicado pelo Prof. Eduardo Chaves na disciplina Educação, Ciência e Tecnologia no curso de Mestrado em Educação da UNICAMP/UnC.