UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina
Pós-Graduação em Ciência da Computação
Disciplina de Informática Aplicada à Educação - 99/3
Sandro da Silva dos Santos


Síntese do primeiro seminário da disciplina.

Síntese:

Introdução à Informática - Automação e Trabalho

O livro de Piero Mussio foi escrito na década de 80 na Itália, porém, muitas de suas reflexões são coerentes ainda nos dias atuais. O livro  foi escrito para a orientação de sindicalistas, e na sua introdução o autor destaca a importância da atividade sindical.

" A tese sustentada neste texto é a de que a informática, nascida para responder às exigencias de elaboração, gestão e organização dos dados, gerados pela profunda transformação econômica  e cultural em curso, constitui uma disciplina que ainda está definindo seus proprios fins, métodos  e instrumentos. Seu desenvolvimento foi, é e será, entretanto, determinado por uma negociação verdadeira e própria entre os diversos atores que dela participam, isto é, especialistas em informática e usuários."

O autor sustenta a tese de que os usuários têm papel determinante na maneira com que os sistemas de informática são construídos e usados. Sendo assim Mussio coloca que não há determinismo tecnológico, ou seja, que a tecnologia assim como a organização do trabalho são variáveis a definir.

" Não há, por tanto, qualquer determinismo tecnológico: a tecnologia é uma variável, assim como a organização do trabalho".

Ele coloca ainda que  quando falamos em informática temos dois tipos basicos de visões:

Os Luddistas que acham a informática como algo ruim, perigoso e danoso e os Triunfalistas que por outro lado, acham que a máquina é o novo evangelho da evolução da humanidade. Como o autor é especialista em informática ele não pode assumir uma postura Luddista, mas também acredita que a postura Triunfalista é equivocada por aceitar a máquina como o sujeito no processo e as pessoas como meros objetos que serão determinados pelos avanços tecnológicos.

Para exemplificar os problemas da postura triunfalista, ele coloca que o termo alfabetização tecnológica (termo usado freqüentemente pelos triunfalistas), tem para ele, uma conotação  impositiva e cita o exemplo dos abssínios que tiveram a sua cultura invadida pelos italianos que os alfabetizaram ignorando toda a cultura daquela civilização milenar.Segundo o autor embora os abssínios não possuíssem um sistema de escrita, era uma sociedade que evoluía  de forma autônoma. Não precisavam de ninguém que os  mostrassem a maneira certa de pensar.

O autor diz que a informática pode ser vista como a ponta de um iceberg, ou seja, junto com o avanço tecnológico, estão ocorrendo transformações sociais (contexto cultural, político e econômico) e que, "...individualizar a informática como nova cultura seria, segundo esta ótica, individualizar na mecânica a cultura do capitalismo.." Seria como dizermos que a máquina à vapor foi a responsável pelo capitalismo.

A informática é vista como um instrumento que influencia o pensamento humano, porém de maneiras diferentes, ou seja, de uma compreensão técnica do lado do especialista que projeta a tecnologia e uma compreensão de uso para o usuário. Existe uma grande distância entre a compreensão do especialista e a compreensão do usuário,  e este distanciamento é agravado pela falta de formas de representação que facilitem a interação entre usuário e especialista.

As causas para esta carência de instrumentos que facilitem a interação entre técnico e usuário, está principalmente nas posturas adotadas pelos técnicos que insistem em garantir o seus status através da utilização de termos técnicos, que segundo sua visão dominadora e anti-dialógica, são muito complexos para o entendimento do usuário que não domina ou que não entendem termos, siglas, lógicas de funcionamento,etc...Porém somente se os especialistas admitirem que não são melhores que os usuários e que são eles, os usuários, que dão sentido a tecnologia, e que por isso mesmo devem fazer parte deste processo que determina as seu rumo, é que poderemos fazer com que a tecnologia seja mais justa e democrática.

Para que  a tecnologia se torne mais justa e democrática é  necessário, segundo o autor, que tanto especialistas quanto usuários tomem algumas atitudes:

* Os  Especialistas precisam ocupar-se na criação de uma forma de comunicação mais facilitada entre usuário e especialista, que  possibilite uma compreensão mais facilitada da tecnologia por parte do usuário, deixando assim de ser uma atividade somente para os especialistas e permitindo que os usuários possam tomar uma postura mais determinante no avanço das tecnologias, fazendo aasim com que os especialistas deixem de ser intermediarios entre  os usuários e a máquina.

* O especialistas precisam fazer algumas reflexões críticas sobre a própria disciplina de informática e o modo de aplicá-la como instrumento de descrição e interpretação do real, assim como uma maneira de comunicar aos usuários sem constrangê-los a renunciar à propria profissionalizzação. Ou seja de maneira que o medico, engenheiro, professor,não tenham que abandonar suas profissões para que possam entender a informática, mas sim possam utilizá-la como ferramenta exercendo assim papel determinante na sua condução e concepção.

* Os usuários, por outro lado, precisam estar dispostos a participar do processo de elaboração das ferramentas, e conscientes do seu papel no contexto e as possibilidades oferecidas pela informática e suas possibilidades.