Síntese: A Convivencialidade [1]

Aluna: Priscyla Waleska Targino de Azevedo Simões 

 

Nesse livro o autor resgata que o mal que se causa é muito pior que o mal que se cura, pois se provocam novas doenças que nem a técnica moderna, nem a imunidade natural, nem a cultura tradicional sabem como enfrentar. ‘A escala mundial, a medicina fabrica uma raça de indivíduos vitalmente dependentes de um meio cada vez mais caro, cada vez mais artificial, cada vez mais higienicamente programado.

No princípio do século, a prática médica dedicou-se à verificação científica dos seus resultados empíricos. A aplicação desse resultado assinalou, para a medicina moderna, a transposição de seu primeiro limiar.

Durante os anos 60, a reação característica contra o crescimento da insatisfação foi a escalada da técnica e da burocracia. A escalada do poder para se autodestruir converteu-se no rito cerimonial das sociedades altamente industrializadas.

 

A Reconstrução Convivencial

 

O homem não se alimenta unicamente de bens e de serviços. Precisa também da liberdade para modelar os objetos que o rodeiam, para lhes dar forma ao seu gosto, para os utilizar com e para os outros. Nos países ricos, os presos dispõem freqüentemente de mais bens e serviços do que a respectiva família, mas não têm voz nem voto sobre a forma como se fazem as coisas, nem têm direitos sobre o que se faz com elas. Reduzidos essencialmente ‘a categoria de meros consumidores-usuários, vêem-se privados da CONVIVENCIALIDADE.

Então, entende-se por CONVIVENCIALIDADE, o inverso de produtividade industrial. Logo, a mudança da produtividade para a convivencialidade substitui um valor técnico por um valor ético, um valor material por um valor adquirido. A convivencialidade é a liberdade individual, realizada dentro do processo de produção, no seio de uma sociedade equipada com ferramentas eficazes.

Através da inversão radical da lógica da instituição, a ciência e a tecnologia moderna não serão aniquiladas, antes dotarão a atividade humana de uma eficácia sem precedentes.

Uma sociedade que define o bem como a satisfação máxima, pelo maior consumo de bens e de serviços industriais, do maior número de pessoas, mutila de modo intolerável a autonomia do indivíduo.

A convivencialidade não tem preço, mas o homem deve saber muito bem o que custará desligar-se do modelo atual. Ele reencontrará a alegria da sobriedade e da austeridade, reaprendendo a depender do outro, em vez de se transformar em escravo da energia e da burocracia todo-poderosa.

 

O modo industrial de produção foi plenamente racionalizado, pela primeira vez, por ocasião da fabricação de um novo bem de serviço: a educação. A pedagogia acrescentou um novo capítulo ‘a história da grande arte. Dentro do processo alquimista, a educação converteu-se na busca daquilo de que ia nascer um novo tipo de homem, requerido pelo meio, modelado pela magia científica.

O serviço educação e a instituição escola justificam-se mutuamente. A coletividade tem uma única maneira de sair desse círculo vicioso, que é tomar consciência de que a instituição chegou a fixar a ela própria os fins.

Para se traduzir na prática a possibilidade teórica de um modo de vida pós-industrial e convivencial, é necessário assinalar os limiares a partir dos quais a instituição gera frustração e os limites a partir dos quais as ferramentas exercem um efeito destrutivo sobre a sociedade no seu conjunto.

 

 

O EQUILÍBRIO MÚLTIPLO

 

A educação produz consumidores competitivos, a medicina mantém as pessoas com vida no ambiente instrumentado que os tornou indispensável, e a burocracia reflete a necessidade do corpo social exercer um controle sobre os indivíduos consagrados a um trabalho insensato.

 

São cinco as ameaças que o desenvolvimento industrial avançado contem para a população mundial:

 

·       O supercrescimento ameaça o direito do homem a radicar-se no meio com o qual evoluiu;

·       A industrialização ameaça o direito do homem à autonomia da ação;

·       A superprogramação do homem relacionada com o seu novo meio ameaça sua respectiva criatividade;

·       Pela complexidade que origina, o processo de produção ameaça o direito do homem à sua tradição, o seu recurso ao precedente por meio da linguagem, do mito e do ritual.

 

Os princípios adjacentes a toda a atuação são três, aplicando-se no plano moral, político e jurídico:

 

O autor ressalta as cinco dimensões que ameaçam o equilíbrio humano:

Ü     A degradação do meio ambiente

Ü     O monopólio radical

Ü     A superprogramação

Ü     A polarização

Ü     A usura (anacronismo)

 

OS OBSTÁCULOS E AS CONDIÇÕES DA INVERSÃO POLÍTICA

 

Nas cinco dimensões que ameaçam o meio ambiente, somente a manutenção de um dado equilíbrio que caracteriza a dimensão garante a homeostasia constitutiva da vida humana. A instituição não suscita a cultura senão ao permitir e tornar efetivo um equilíbrio sutil entre a ação pessoal autônoma e as restrições de diretrizes que ela própria impõe.

A ciência é uma agência de serviços onipresente, que produz “melhor  saber”, tal como a medicina produz “melhor saúde”. Logo, a institucionalização do saber conduz a uma degradação global mais profunda, pois determina a estrutura comum dos outros produtos. A ciência pode iluminar as dimensões do reino do homem no cosmo, mas precisa de uma comunidade política de homens conscientes da força de sua razão, do peso da sua palavra e da seriedade dos seus atos para escolher livremente a austeridade que lhe garantirá a validade.

A palavra do homem que vive como poeta só é tolerada como protesto marginal e desde que não perturbe a multidão. Se cada qual se servir da linguagem para reinvidicar o seu direito à ação social em vez de ao consumo, a linguagem se transformará no meio de restituir a relação do homem com a ferramenta e a sua transparência.

 

A INVERSÃO POLÍTICA

 

Numa sociedade rica, cada qual é, de qualquer modo, consumidor-usuário, desempenhando o seu papel na destruição do ambiente.

Concluindo, a CONVIVENCIALIDADE  será obra exclusiva de pessoas que utilizem uma instrumentalização efetivamente controlada, podendo uma sociedade convivencial ser destruída por “mercenários do imperialismo”, mas que não poderão conquistá-la.

 

 



[1] Illich, Ivan. A Convivencialidade, 4116/2148 edição, Lisboa: Publicações Europa-América, 1976