UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina

Informática na Educação

Prof. Edla

Harley Wagner


Sintese:

Educação como prática da liberdade - Paulo Freire

Este livro apresenta o que ele chama de "ensaio" onde ele propõe algumas linhas mestras da visão pedagógica e de métodos de ensino. O autor não é apenas um mero expectador, as idéias expostas no livro são experiências vivida por ele. Este livro foi escrito depois da queda do governo Goulart, nos intervalos das prisões e concluído no exílio.

Preocupado com a questão do campo da significação geral do movimento brasileiro de educação popular, se interessando sobretudo com as possíveis implicações sociais e políticas desta ação. Com essa preocupação, ele faz nos refletir: " A experiência educacional com as massas não deveria ser considerada como uma sugestão para o estudo de novas linhas para uma autêntica política popular?"

O respeito à liberdade dos educandos, que nunca são chamados de analfabetos e sim de alfabetizandos. A busca pela interferência do povo na estrutura do programa através do levantamento do vocabulário popular. "Estas palavras básicas em termos de sua frequência, relevância como significação vivida e tipo de complexidade fonêmica que apresentam. Estas palavras, de uso comum na linguagem do povo e carregadas de experiências vividas, são decisivas, pois a partir delas o alfabetizando irá descobrir as sílabas, as letras e as dificuldades silábicas específicas e seu idioma, além de que servirão de material inicial para descoberta de novas palavras."(Freire, pag 13).

A grande preocupação de Paulo Freire é a mesma de toda a pedagogia moderna: "uma educação para a decisão, para a responsabilidade social e política". Nas linhas de sua filosofia existencial sua única exigência específica, e estar exigência define claramente os termos do problema, é que "teria o homem brasileiro de ganhar responsabilidade social e política, existindo essa responsabilidade". Este saber democrático jamais se incorpora autoritariamente, pois só tem sentido como conquista comum do trabalho do educador e do educando. Paulo Freire comenta neste livro que é impossível "dar aulas de democracia e, ao mesmo tempo, considerarmos como "absurda e imoral" a participação do povo no poder".

Com as linhas de um sociologia de compreensão, o autor vê nestes períodos como períodos de trânsito, crise de valores e temas tradicionais e de constituição de novas orientações. "Dizemos que se anunciam tendências à democracia. Dizemos que se anunciam tendências à democracia, e não que esta se apresente como algo inevitável, pois a democracia, como a liberdade". Sempre criticando o ponto de vista das elites, afirmando que a mesma trata de acomodar as classes populares emergentes e "domesticá-las" em esquemas de poder a gosto das classes dominantes. Chama a atenção para a relevância política da exclusão dos analfabetos, que segundo ele é mais sensível nos estados mais pobres do país. Com esta forma de pensar e agir, foi vítima da ditadura, onde durante anos foi mantido exilado, ele se empenhou em fazer de suas idéias de liberdade o verdadeiro sentido de sua prática. "Não há educação fora das sociedades humanas e não há homem no vazio" (Freire, pág 43).

Neste livro o autor lamenta a própria observação sobre o comportamento do homem "... em qualquer dos mundos em que o mundo se divide, é o homem simples esmagado, diminuído e acomodado, convertido em espectador, dirigido pelo poder dos mitos que forças sociais poderosas criam para ele." (Freire, pág 53), que é vetado ao homem simples participar das decisões e opiniões, o homem quanto mais simples mais é mantido a distância, uma verdadeira exclusão do mundo. É o homem tragicamente assustado, temendo a convivência autêntica e duvidando de suas possibilidades. Com relação as "elites" que ele faz referência, quando percebem a possibilidade do povo tomar consiência desta situação, " Num primeiro momento, reagem espontâneamente. Numa segunda fase, percebem claramente a ameaça contida na tomada de consciência por parte do povo. arregimentam-se. Atraem para si os "teoricos" de "crises", como, de modo geral, chamam so novo clima cultural." (Freire, pág 63).

O autor analisa a sociedade brasileira da época e classifica como uma sociedade em trânsito. Faz também um comentário a respeito da formação histórico-cultural da sociedade, definindo-a como "inexperiêcia democrática", atribuindo esta falha a  forma de condições estruturais de nossa colonização, que segundo ele, foram muito desfavoráveis. Tornando a população mais carente inexperientes politicamente. Segundo ele, a distância social existente e característica das relações humanas no grande domínio não permite a dialogação. Faltando desta forma um clima onde o homem desenvolve o sentido de participação na vida comum "A dialogação implica na responsabilidade social e política do homem. Implica num mínimo de consciência transitiva, que não se desenvolve nas condições oferecidas pelo grande domínio" (Freire, pág 78). Faz também um comparativo entre a acomodação e a integração, a acomodação exige uma dose mínima de criticidade, a integração exige um  máximo de razão e consiência. É o comportamento carcterístico dos regimes democráticos. O problema do ajustamento e da acomodação se vincula ao do mutismo, como uma das consequências da inexperiência democrática.

Já no capítulo três o autor compara a educação com a massificação, na medida que as classes populares emergem, descobrem e sentem esta visualização que delas fazem as elites, inclinam-se, "Estas elites, assustadas, na proporção em que se encontram na vigência de seu poder, tendem a fazer silenciar as massas populares, domesticando-as com a força ou soluções paternalistas", estes tendem a travar o processo, de que decorre a emersão popular, com todas as consequências. "Quanto mais se falava nas necessidades das reformas, na ascensão do povo ao poder, em termos muitas vezes emocionais e com que se parecia desprezam totalmente a vigência do poder das "elites", como se tivessem elas descoberto já que ter previlégios não é só ter direitos, mas sobretudo deveres e deveres com a sua nação, mais se arregimentam essas "elites", "irracionalmente", na defesa de previlégios inautênticos" (Freire, pág 95).

Ele levanta a questão de uma educação possibilitar ao homem a discusão corajosa de sua problemática. De sua inserção nesta problemática. Que o advertisse dos perigos de seu tempo, para que, consciente deles, ganhasse a força e a coragem de lutar,  ao invés de ser levado e arrastado à perdição de seu próprio "eu", submetido às prescrições alheias. A educação, segundo ele, deveria colocar em diálogo constante com o outro, que o predispusesse a constantes revisões, análise crítica de seus "achados", "Não poderíamos compreender, numa sociedade dinamicamente em fase de transição, uma educação que levasse o homem a posições quietistas ao invés daquela que o levasse à procura da verdade em comum, "ouvindo, perguntando, investigando"." (Freire, pág 98).

Já no capítulo quatro, o autor começa a descrever a sua prática, chamando-a de educação e conscientização.  Parte do princípio da democratização da cultura, fornece número bastante alarmantes de crianças em idade escolar sem escola e de analfabdetos no país. Explicita sua experiência acumulada durante 15 anos, se surpreende com a apetencia educativa das populações urbanas, associada diretamente à transitividade de sua consiência, já nas populações rurais, certa inapetência ligada à intransitividade de sua consciência, "Experimentámos métodos, técnicas, processos de comunicação. Superamos procedimentos. Nunca, porém, abandonamos a convicção que sempre tivemos, de que só nas bases populares e com elas, poderíamos realizar algo de sério e autêntico para elas. Daí, jamais admitimos que a democratização da cultura fosse a sua vulgarização, ou por outro lado, a doação ao povo, do que formulássemos nós mesmos. em nosso biblioteca e que ele entregássemos como prescrições a serem seguidas" (Freire, pág. 110).

O autor afirma que conforme os processos de democratização se fazem gerais, se faz também cada vez mais difícil deixar que as massas permaneçam em seu estado de "ignorância", neste estado o autor reforça não somente o analfabetismo, mas a inexperiência de participação e ingerência delas. Sugere o autor que com esta mudança isto seria substituído  pela participação crítica, o que ele definiu como uma forma de sabedoria "A participação em termos críticos, somente como poderia ser possível a sua transformação em povo, capaz de optar e decidir" (Freire, pág. 110). O autor relata experiências com grupos onde foram feitos debates em busca do esclarecimento de situações ou em busca de ação decorrente das situações, "Com seis meses de experiências, perguntávamos a nós mesmos se não seria possível fazer algo, com um método também ativo, que nos desse resultados iguais, na alfabetização do adulto, aos que vínhamos obtendo na análise de aspectos da realidade brasileira".

O autor imagina uma alfabetização direta e realmente ligada à democratização da cultura, que fosse uma introdução a esta democratização. Em uma alfabetização que, por isso mesmo, tivesse no homem, não esse paciente do processo, cuja virtude única é ter mesmo paciência para suportar o abismo entre sua experiência existencial e o conteúdo que lhe oferecem para sua aprendizagem. Ele reforça que só com muita paciência é possível de tolerar esta estrutura, como alguém que trabalhou durante várias horas no dia, ou ainda, de um dia sem "trabalho" entender lições que falam de coisas que ele não conhece, que não faz parte do seu dia a dia. Para o homem desenvolver concições de criar através da alfabetização, seria necessário que neste processo o homem não fosse um paciente, ou um objeto dela. É importante que se desenvolva a impaciência, a vivacidade, característica dos estados de procura, de invenção e reivindicação.

O autor apresenta a educação como uma forma de diálogo, com participante.  Neste diálogo, A se comunica com B, uma relação de simpatia entre os participantes em busca de algo, ele classifica como matriz: amor, humildade, fé, confiança e criticidade. O autor condena a educação exercida como antidiálogo onde existe uma relação vertical entre os elementos, nesta relação a simpatia é quebrada, ele classifica a matriz disso como desamoroso, inumilde, desesperançoso, sem fé, sem confiança, acrítico. Salienta ainda que todo debate pode ser altamente "criticizador" e "motivador"

Na forma de trabalho de Paulo Freire, é observável claramente que em primeiro lugar para se educar adultos, é necessario primeiramente fazer com que o aluno perceba que ele existe, que ele tem lugar neste mundo, que ele exerce uma função, que ele não é um ignorante como as elites tentam fazê-lo pensar. É importante neste caso recuperar sua estima, ou muitas vezes ajudar a construí-la. Quando este aluno percebe-se destes detalhes ele começa a sentir a necessidade e a maravilha de aprender, começa então uma nova etapa, nesta etapa o aluno já possui vontade de aprender, busca o aprendizado incentivado por suas novas idéias e constatações que começam a surgir. Nesta etapa o educador começa a trabalhar a alfabetização de forma diferenciada, trazendo ao aluno palavras de seu cotidiano, fazendo uma relação direta com sua realidade. Desta forma é possível, segundo esperiências feitas por Paulo Freire, é possível se obter melhores resultados na alfabetização, que ele considera não só o saber ler e escrever, mas também participação política.